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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Júri (in) Popular


Por Ulisses Ciríaco

Sentença dada. Mesmo sem o bater do martelo.
O veredito do júri: Culpado!
O réu, na estúpida tentativa de eximir-se da culpa, valida sua condenação.
O coletivo, submerso nas profundezas das pulsões destrutivas não-canalizadas encontram um caminho só de ida e descarga: a emissão da Ira direcionada a um só objeto.
Eméritos os juízes, os magistrados, os acadêmicos.
Doutos os ignorantes, o povo, a massa, o coletivo.
Que, em nome de uma justa trapaça diplomática, sob a tragicômica máscara da superficialidade das relações expurgam-se da sujeira e dos restos que não podem ser jogados para baixo do tapete, pois, apesar de escondidos, ainda federiam.
Que as pedras que jogarei esmaguem, destruam e desfigurem a cara feia da vingança. Que o transbordar do copo cheio, ao esvaziar-se uma parte, seja apenas um ganho de tempo até que ele fique cheio novamente e volte a transbordar. Um ciclo vicioso e viciado.
Que o réu injustamente condenado pague, mesmo sem dever, para que fiquemos ainda mais ricos de nós mesmos.
Que possamos cada vez mais nos devorarmos, nos usarmos, nos cuspirmos e nos jogarmos fora. Nós a nós mesmos.
Afinal, hoje, o bater incerto do martelo pode se voltar contra qualquer um.
O banco dos réus está vago novamente.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um qualquer e Alguém


Por Beni Albuquerque



Esse é um dia na vida do um qualquer desejando e acreditando na ilusão de que virou Alguém

Terça-feira qualquer, madrugada
um qualquer foi dormir se sentindo Alguém
Grandes olhos negros sobre seu corpo
Olhos que falavam sobre ternura, amor, desejo
Uma boca que no seu abrir e fechar
Refletia palavras e verdades lindas, instantâneas
um qualquer se sentiu amado
Desejado
Sentiu-se Alguém
Não um alguém qualquer
Importante Alguém
Para Alguém Importante
ser qualquer um não cabia ali
Ele era Alguém
Pois a boca, os olhos, o corpo e o pensamento de Alguém o transformava nessa nova criatura.
Alguém que há muito se sentia qualquer
um qualquer bem pequenininho
Queria agora parar o tempo naquele exato momento
E ser mais que Alguém
E numa desvairada fantasia
Sonhou em não ser mais um reles mortal
Desejou pintar, fazer escultura, poema, um romance
Queria ser um semideus e eternizar aquela noite
Queria inventar um cofre inviolável onde se pudesse guardar as noites
Onde se produzem as provas
Que comprovam
A existência
De um amor
E sempre que se sentisse um qualquer
Poderia abrir o cofre, ver seu tesouro
E ser Alguém novamente
Cedo Alguém descobriu que
As noites
E as provas de amor
São feitas de outra natureza
Não sendo possível guardá-las em cofre algum.
Aqueles olhos
A mesma boca, o mesmo corpo o ajudaram nessa descoberta
Naquela noite
Os olhos não falavam mais
Não o notavam
E mesmo com proximidade
Distância
Aquela boca
Perdeu a magia
E apesar do barulho
Silêncio
Daquele corpo quente
Só o frio
Daquelas mãos
Nem um aperto
Nem um toque
E a falta de um toque
Fez acabar
A certeza daquela ilusão
Foi dormir mais um qualquer
Acreditando que no futuro
Seria Alguém novamente

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Willie Lynch e a Sociedade Contemporânea

Por Ulisses Ciríaco


De acordo com o texto que foi publicado anteriormente no blog com o discurso proferido por Willie Lynch, escravista das índias ocidentais, será discutido e contrastado seus métodos de acordo com a época do discurso (1712) e com a sociedade pós-moderna.

O termo “linchamento” tem sua gênese etimológica derivada dos métodos e técnicas escravistas dos Lynch. Daí o termo, (Lynch)amento.
Mas creio que isso é o de menos.

Lynch inicia seu discurso, apontando o que os senhores de escravo da Virginia estavam fazendo de errado. Inicialmente mostra o grande equívoco comercial que era matar os escravos. Primeiramente por ser um grande desperdício de “mercadoria”.

“Os senhores não só estão perdendo uma valiosa mercadoria enforcado-os, mas os senhores estão provocando levantes, escravos estão fugindo, suas colheitas muitas vezes estão ficando nos campos por mais tempo que o necessário, prejudicando com que se tenha melhor preço, estão sofrendo incêndios ocasionais, seus animais estão sendo mortos, cavalheiros os senhores sabem os seus problemas, eu não preciso citá-los.”

Pode-se notar claramente a visão empreendedora e corporativa desse senhor. Não é novidade para ninguém que os escravos eram meras ferramentas de mão de obra e, consequentemente, mercadorias. Negociados, comprados, trocados, abusados, usurpados, torturados, castigados, açoitados, etc e etc, mas temos que admitir que a formulação de toda essa “técnica” de controlar os escravos de forma mais produtiva, o fazia parecer um acadêmico dessa área, quase um Slave Business Manager (algo como um Gerente de Negócios Escravos).

Esse senhor, de visão tão empreendedora não agia pelos mesmos meios que seus contemporâneos e anfitriões da Virgínia. Tinha a fórmula mágica e a essência para ser soberano aos seus servos. Essa semente germinou e virou uma funesta árvore da discórdia, que permeou séculos (talvez dure milênios) iludindo, confundindo e impossibilitando o equilíbrio das relações sociais posteriores.

Essencialmente, sua técnica consistia em estimular desunião, desconfiança e todos os tipos de intrigas entre a população escrava. Pegava diferenças existentes entre eles e as transformava em maiores ainda. Usava medo, inveja, desconfiança e etc. como instrumentos de controle.

Lynch garantiu em seu discurso que, se seguida corretamente à receita, o método seria capaz de controlar escravos por até 300 anos. O lamentável e saber que ele estava correto, e que a eficiência de sua técnica perdurou por muito mais de 300 anos, estando viva até os dias de hoje.

Para contrastarmos sua técnica com o modo de vida das sociedades modernas, deve-se considerar o contexto histórico daquela época, envolvendo os costumes, as crenças, a tecnologia, a legislação, política e etc., tanto quanto deve ser considerado o contexto histórico da atualidade.

Acredito que, levando em consideração os períodos históricos em contraste, essa técnica dominada pelo Sr. Lynch se instalou, se adaptou às transformações e se tornou muito poderosa. Falo isso porque ao longo do desenrolar espaço/tempo, muitas coisas se transformaram, e uma delas (muito óbvia) é a abolição da escravidão no Brasil e no resto de todo o mundo.

Mesmo sem a escravidão explícita, a escravidão declarada oficialmente, os seres humanos não são mais donos uns dos outros de forma tão clara assim.
Entretanto, após o fortalecimento e completa ascensão da sociedade de consumo, as pessoas passaram a ser mercadorias, mas indiretamente, dando assim espaço para que os senhores de escravo (os da modernidade) passassem para você a ilusão de que você esta “pertencendo”, quando na realidade você é o “pertence”. O sujeito se tornou objeto. Objeto que prioriza conquistar outros objetos, onde ilusoriamente os consome sem perceber que na verdade está sendo consumido pelo seu próprio consumo. Confuso?

Rotinas exaustivas e aceleradas das grandes metrópoles. Através do trabalho (alienado), onde a maioria dos sujeitos possuem empregos que lhe ocupam o dia todo, esgotam física e emocionalmente e a remuneração não é suficiente para atender todas as suas demandas. Através dos empregos, quase sempre taylorizados, se mostram mais evidentes o quanto os sujeitos ainda pertencem (mesmo que implicitamente) aos outros sujeitos (Patrões). Mas esses sujeitos pertencentes, assim o são, para atender aos seus próprios desejos, aspirações e interesses, e uma das vias de acesso é o labor.

Exemplo: Cidadão X acorda 4 horas da manha porque entra às 7 da manhã no trabalho, gasta duas horas para chegar ao seu local de trabalho que fica consideravelmente longe de sua casa. X trabalha o dia todo até as 18 horas e chega em casa enre 20 e 20:30 da noite. Sobra-lhe pouco tempo para dedicar-se a família, a si mesmo e a qualquer outra coisa durante a semana, pois tem que descansar para o dia seguinte. Além disso, recebe uma quantia considerável, mas que não chegam nem perto de um ideal para atender suas demandas.

 Quando falo em demandas, não estou falando apenas em necessidades. Falo em algo que transcende as necessidades, vontades e desejos que são traçados como metas e objetivos, mesmo não tendo motivos tão esclarecidos ou coerentes. São como "pulsões do Id", psicanaliticamente falando.

O segredo de tudo é que esses desejos que acabam tornando-se metas e objetivos e simultaneamente são fatores motivacionais para “busca” das rotinas pesadas do dia-a-dia, esses desejos, sem percebermos, são induzidos e estimulados a aparecerem e se manifestarem pelos mesmos “Senhores” que nos tomam todo o tempo do dia.

Vou explicar melhor.

Oferecem-nos um emprego, onde eu troco meu tempo e minha mão de obra por uma quantia em dinheiro, para satisfazer minhas necessidades e meus desejos. Curiosamente meus desejos atendem (mesmo que indiretamente) aos interesses desses que me “compraram” tempo e mão de obra. No final disso, somos produtos e consumimos a nós mesmos.

Para elucidar, posso citar o exemplo da época da abolição da escravatura no Brasil. Uma princesa, cheia das boas intenções declarou livres todos os escravos, sendo que esses, agora livres, não tinham para onde ir, o que plantar, o que comer, o que fazer e etc.
Será que isso teve como conseqüência o grande êxodo das favelas, da marginalidade e criminalidade urbana, que tanto ameaça a classe dita “superior” dos dias de hoje?
Fica a pergunta...

Retomando o discurso, “Agora que os senhores já têm a lista de diferenças, devo enumerar-lhes algumas atitudes que devem ser tomadas, mas antes disso, devo assegurar aos senhores que a desconfiança é mais forte que a confiança, e a inveja é mais forte que a lisonja, o respeito e a admiração. Os negros escravos depois de receberem essa doutrinação deverão incorporar-se a ela e se tornarão, eles próprios, reprodutores delas por centenas de anos, talvez milhares de anos. Não se esqueçam os senhores devem jogar um negro velho contra um negro novo e um jovem contra um velho escravo. Os senhores devem usar o escravo de pele escura contra o escravo de pele clara, e o escravo de pele mais clara contra o escavo de pele escura”.

Podemos ver nesse pequeno trecho, o reflexo disso na instabilidade e completo desequilíbrio das relações sociais contemporâneas.
O homem, na sua natureza, tende a valorizar mais os comportamentos agressivos e irracionais como forma de resolução de conflitos do cotidiano das relações interpessoais. Apesar de muito ter mudado ao longo da história no que se refere à consciência da violência e a busca constante da não-violência, ainda sim, há mais violência que não-violência. Uma forma de violência muito eficiente sobre a coletividade é a cultural. Algo como um “etnicídio”. O sujeito reconhece o outro como diferente, porém inferior, e para submetê-lo ao seu poder, não se ataca sua pessoa, não domina seu corpo, mas sim aliena, modifica e até destrói sua cultura.
Destruindo a cultura, e de quebra inserindo uma nova cultura dominante, que atende aos interesses das classes “superiores”, você concerteza terá um domínio sobre a classe “inferior”.

Através de ferramentas que agem de formas sutis nas subjetividades, como os meios de comunicação em geral, nota-se a grande influência e persuasão destes meios sobre os sujeitos. Suas demandas atendem aos critérios do capitalismo, utilizando-se de seu poder persuasivo para a formação de opiniões, valores e crenças que se enquadrem às necessidades do mercado de consumo.

Repito, somos consumidos pelo próprio consumo.


Além da produção de uma cultura dos desejos e do consumo, instauro-se também nesse repertório cultural a cultura do medo, da marginalidade e da delinqüência.
A delinqüência e a marginalidade, apesar de conceitos morais de uma sociedade imoral, são reais. São produtos dessa sociedade que a teme, e busca de todas as formas seguir seu processo consumista de forma segura, sem as ameaças da marginalidade e delinqüência (oriundas, geralmente, da classe inferior).


Ao mesmo tempo que a classe superior tenta consumir seguramente, sem as ameaças da classe inferior, esta última busca a qualquer custo (e utiliza as mais variadas ferramentas para isso) tentar suprir suas necessidades básicas, além do sonho de poder gozar do consumo e “subir” de classe social
Todas essas situações são produtos de uma mesma ilusão, transmutada em formas mirabolantes de crenças e valores, que misturadas aos sentimentos confusos e incompreensíveis do ser humanos, emergem das profundezas do inconsciente para a consciência, orientando e conduzindo o sentido de vida dos mesmos.

Isso sem contar na intolerância às diferenças, que está disfarçada de tolerância.

Anos e anos de guerras pelos mais variados motivos, também mascarados por ilusões e ideais vendidos a milhões de mentes enganadas.
Guerras ainda estão acontecendo, como no Iraque, onde milhares de soldados americanos, senão todos, sequer sabem o motivo de estarem lá, longe de casa, invadindo um país estranho e matando (muitas vezes) civís que falam uma língua completamente desconhecida e incompreensível. Mas isso já é outra questão...


Apesar de acreditar que essa receita mágica da desordem, observada e organizada por Willie Lynch tenha se transformado junto com a história e a sociedade e tenha sobrevivido, da mesma forma que um parasita, vivendo completamente ás custas de seu hospedeiro, ainda sim, penso que a culpa é e sempre foi nossa.

Sim a culpa também é nossa, os enganados, os iludidos.

 

domingo, 24 de outubro de 2010

Relato da Noite Sem Teto


Por Rafael de La Torre

Dia 17 de outubro rolou a Noite sem Teto, protagonizado por uma ONG chilena que está começando no Brasil, o evento foi realizado em toda a Sudamerica.


Intuito. Pessoas moram na rua e isso é um absurdo. Só no município de São Paulo temos 10 milhões de pessoas e 4 milhões não tem condições de moradia segundo falado nas palestras da ONG.( será que é culpa do PT que não governa São Paulo faz 16 anos? Ou o PT tem culpa disso, pois nas mãos de Erundina ela liberou os camelos e fez um êxodo total de pessoas para São Paulo que então não conseguiram encontrar infra-estrutura adequada na cidade? Deixo o pensamento....).

Beleza, a maioria eram jovens de Universidade, tanto que o chamativo da ONG para este evento falava em capacitar jovens nas universidades e etc. A maioria dos jovens eram de Direito, Arquitetura, tendo poucos de outras instâncias do saber e as idades eram de 17 até 22 anos, dando no máximo 23 anos.

Proposta: Ficar na madruga em um monumento público da cidade de São Paulo como forma de denúncia da situação. De quebra, teria palestras de convidados para debater o tema, ou lançar luz de estratégias para o ''combate''.

Bom, de todos os palestrantes, o que mais foi inteligente no modo de abordar o tema foi um Arquiteto, que não tinha um discurso pronto e abordou de inúmeras maneiras formas de como a arquitetura poderia contribuir para o usufruto de todos e que era um pensamento mesquinho falar que não tem mercado para arquiteto. Não tem se for pensar em querer montar casas em bairros nobres. MAS, o mais importante, não é a crítica ao burguês que pode montar casas exuberantes e tem acesso a tudo que precisa. A coisa em si e que deve ser levada em conta é não tomar essas coisas como NATURAIS, fora o terrorismo midiático que fazem quando um MST invade uma terra que ditam ser produtiva. Mas em síntese, a melhor fala da noite, a do Arquiteto, é que devemos nos indignar com esta situação e mostrou algumas matérias da VEJA que demonstrava em sua CAPA bairros nobres e prédios nobres da cidade de São Paulo, envoltos por uma parte cinza e a notícia era a seguinte: '' A camada pobre cresce na cidade de São Paulo, e faz bairros de infra-estrutura ficarem desvalorizados.'' (não é bem esse o título da notícia, mas era algo bem próximo disso.).



Muito bem, encerrada a fala, e após quase todas as falas todo mundo ficava aplaudindo como se fosse um programa de show, se o palestrante falasse: '' Merda, mas viva a iniciativa de dormir na rua e que é uma vergonha isto ficar assim''. Todo mundo iria aplaudir. Fora que teve um cara do Marketing e um economista que tomaram uma fala que fez arrepiar os meus cabelos, defendendo a iniciativa voluntária como ótima, e que o negócio lógico é fazer e promover empresas com lógica 2,5 setor, ou invés de 2º setor ou 3º setor. A lógica 2,5 é que não basta fazer serviço social, mas tem que fazer um serviço social e LUCRAR com ele.

Desnecessário dizer, ou melhor, muito necessário dizer que isto implica no discurso que não se deve de maneira nenhuma necessitar da ajuda do Governo, mas sim do Mercado, ou seja, um discurso neoliberal e que estas possibilidades de lógica se dão em um Governo como o de São Paulo, que é Tucano e que justamente é o mesmo Governo que a ONG está tentando denunciar, pois existem, repito, 4 milhões de pessoas só no município de São Paulo segundo os dados da ONG. Contra-senso, certo? Mas todos aplaudiram o cara no fim das contas. Fora que ele falou que prefere o programa de saúde de clínicas privadas atendendo a consulta a 30 reais, do que o SUS que é gratuito. (nesse comentário não vou me estender, mas o SUS é parte da Constituição após anos de luta do movimento Sanitário, em outras palavras o cara negou algo que é da Constituição e disse que o melhor é o PAGO, do que qualquer coisa ''gratuita'').

Mas tudo bem, sem querer ser romântico, vivemos no capitalismo e no caso do Brasil um capitalismo bem...bem...como posso dizer....infantil? Onde a ignorância é uma benção. Ignorância no sentido de o mundo não precisar de questionamento sem ser no sentido da truculência. Sendo assim, temos um capitalismo que qualquer ação é central do capital e da mais-valia. Serviços, prestação de Serviços, operarão em certo sentido na lógica do Mercado Capital, que prega uma autonomia, mas que deixa todos dependentes de como são as Leis do Mercado (contra-senso). E isto, envolve serviços ditos Sociais então, provisoriamente, a lógica 2 e meio se for feita nesse sentido de ser PROVISÓRIO, é a melhor opção para ser menos perverso no sistema capitalista do Brasil. Ou é este dentro de uma lógica privada, ou o Estatal (de minha preferência e que NINGUEM dos palestrantes teve capacidade de falar sobre, como se não existisse).

Não preciso dizer que todos aplaudiram também e em mesmo tom as coisas que o carinha disse. Ele até usou exemplos de pessoas que ganharam prêmio Nobel e pediu para falarem de quem vem na mente quando se fala em prêmio Nobel, eu logo pensei em Sartre, que se negou em ir receber o seu, mas enfim, ele disse isso para falar do único bancário que ganhou o Prêmio Nobel da Paz (digno de nota, é verdade) Muhammad Yunus, que fez o banco do povo (se fosse um tucano iria dar o nome de banco do pobre) pois Blangadesh passava por uma crise de fome na década de 70. No livro '' Para Entender o Mundo Financeiro '' de Paul Singer, ele discorre sobre o Banco do Povo e Muhammad Yunus, vale a pena ler o livro desse economista que trabalha com economia solidária por todo o Brasil. 



E tudo isso para falar do trabalho voluntário. Para ver como não é tão simples assim, fazer um trabalho voluntário, veja quantas questões permeiam uma organização dita de serviços voluntários. Não é tão simples, repito, falar e fazer um trabalho voluntário.

Enfim, fomos para uma roda de debate, haviam umas 130 pessoas, e quando chegávamos tínhamos um numero, o meu foi o 13. O tópico de discussão era: Que medidas tomar para erradicar a pobreza na cidade?
Antes do início do debate, todos foram se apresentando. Na roda tinha um cara que veio da Espanha e tava por aqui trabalhando na ONG, deveriam ter, tirando o espanhol, outras 11 pessoas ou mais, todos por volta dos 19 até 22 anos, Arquitetos e estudantes de Direito.

Com todo o respeito aos amigos de fórum que estudam direito, mas......meu.....me senti em uma roda de culto evangélico. Bradavam leis e alfinetavam a prefeitura/estado com uma avidez comparável de quem recita versículos e que ataca o diabo nos cultos. Por 1 hora eu fiquei escutando e escutando, e todos se levavam bem a sério e tinham plena certeza de o que estavam fazendo e debatendo era a coisa mais sensata possível e que a ação da noite era um golpe contra o descaso social que as pessoas de rua passam. Discursavam sobre o Capitalismo como que fosse resumível a culpa de tudo pelo capitalismo e que tendo o IPTU progressivo e o Usucapião e mais outras manobras que só podem ter vindas de um professor de Direito que não sai dos corredores da faculdade e que só sabe fazer uso do poder ao qual fiquei admirado.

Logo, notei que ali eu tinha no mínimo um compromisso Ético. Contextualizar essa galera de que não é tão simples assim a resolução e que tem sim de serem promovidas ações envolvendo todos os atores sociais. Prefeitura, Sociedade Civil e etc.

O primeiro foi um estudante de Direito que falava aos cotovelos sobre o capitalismo e que a prefeitura era uma merda que não fazia porque não queria e tudo mais. A fala dele foi a seguinte quando se estava falando se seria possível ter outra dimensão de uso do dinheiro e trabalho na sociedade:'' Pra mim não tem jeito só mexer na educação. Tem que mexer no plano econômico, pois só com educação, não serão todos que terão em mente que para dar ''certo'' na vida tem que fazer faculdade, e que o ''errado'' é quem não faz nada. Só educação não basta, a primeira ação deveria ser no plano econômico. '' 
Neste momento tive que fazer uma intervenção e falei: '' Cara, essa sua fala, por sí só já é capitalista. Você está observando a situação em uma lógica cartesiana, sendo assim, binária. Certo e errado, mesmo quando tu falas entre aspas, já é fala de capital, pois tem um sentido de juízo de certo/errado em primeira instancia. Fora que não existe só um tipo de capitalismo, tu tens que falar do nosso tipo de capitalismo e não olhando que nos países nórdicos tem de tudo, mesmo sendo capitalistas. Enquanto a nossa fala for binária ''certo/errado'', mesmo com aspas, estamos falando, em miúdos de ''Lucro/Prejuízo. '‘.

O que quis dizer mesmo foi para todos que, não adiantava ficar “demonizando” o capitalismo, pois QUALQUER discussão que fazemos do capitalismo, estamos ficando longe do objetivo que é pensar e fazer coisas para melhorar a situação da pobreza. Que adianta meter o pau no capitalismo, na madrugada, em frente ao monumento dos bandeirantes? É sério. O mundo não para porque estamos fazendo isso ou aquilo. Que ficar ao relento é nobre. Ou que fazendo uma carta, os problemas iriam se resolver por si só, pois na carta tem um conhecimento completo de Leis previstas para melhorar o quadro social. (só que não cita que o Judiciário está totalmente engessado nos dias atuais, culpa dos próprios Advogados?!)

Enfim, teria inúmeras outras situações a falar deste ato voluntário.
No fim eu saí com um pensamento, que compartilhei com os colegas de discussão: '' Esta carta irá para quem? Prefeito? Bem, e se é para escrever uma carta para combater ou melhorar a pobreza, penso que quem deveria escrever ela não seriamos nós, mas irmos buscar quem vive na pobreza e falar para ele escrever o que acha que deve ser feito, senão, essa atitude é só uma atitude pequeno-burguesa e capitalista, onde o detentor do saber, saberá o melhor para quem não sabe.'
E, fundamentalmente, dormir na rua para ter experiência de como é dormir na rua, em um local nobre de São Paulo é estar perto de quem dorme nas ruas? O melhor, já que é o sentido da ONG sensibilizar, é levar então pessoas que dormem na rua para a nossa casa. Isso seria levar o problema para a casa. E ae, quem banca?
''

Não me surpreendeu que muitos não entenderam bem e outros simplesmente ignoraram e se apressaram em escrever uma carta que supostamente será entregue na prefeitura. 

Resumindo uma participação de trabalho voluntário.
Isto aproxima mesmo pessoas da realidade? 
Eu saí com dúvidas sobre essa efetividade. Não levar o problema para a casa é fácil.
Agradeço quem ler este relato. Vale a pena.



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Discurso de Willie Lynch (Aula de Escravização)


Este discurso foi proferido por Willie Lynch sobre a margem do rio James na colônia da Virgínia em 1712. Lynch foi um proprietário de escravos britânico nas Índias Ocidentais. Ele foi convidado para a colônia da Virgínia em 1712 para ensinar seus métodos de escravo aos proprietários lá.




              25 de dezembro de 1712
”Senhores:
“Cavalheiros eu vos saúdo aqui nas margens do Rio James no ano do Nosso Senhor um mil setecentos e doze”. Primeiramente, gostaria de agradecer aos cavalheiros da colônia da Virgínia por terem me trazido aqui. Estou aqui com o intuito de ajudá-los a resolver alguns dos seus problemas com os escravos. Vosso convite me foi entregue em minha modesta plantação nas índias do oeste onde eu tenho experimentado um dos mais modernos, ainda que o mais velho dos métodos para controlar escravos. Roma antiga nos invejará se meu programa for implantado. Enquanto nosso barco navegava rio abaixo, pude ver o bastante para constatar que seus problemas não são isolados. Roma usava cruzes para erguer corpos humanos ao longo da estrada, em grande número, os senhores estão usando árvores com forcas para o mesmo fim. Eu senti o mau cheiro de um escravo enforcado em uma arvore a algumas milhas daqui. Os senhores não só estão perdendo uma valiosa mercadoria enforcado-os, mas os senhores estão provocando levantes, escravos estão fugindo, suas colheitas muitas vezes estão ficando nos campos por mais tempo que o necessário, prejudicando com que se tenha melhor preço, estão sofrendo incêndios ocasionais, seus animais estão sendo mortos, cavalheiros os senhores sabem os seus problemas, eu não preciso citá-los. Eu não estou aqui para enumerar seus problemas, estou aqui para apresentá-los um modo de resolvê-los.Tenho aqui em minha pasta um comprovado método de controle de negros escravos. Eu garanto que se implementado corretamente, este método será capaz de controlar escravos por pelo menos 300 anos. Meu método é simples qualquer membro da família e até o feitor pode usá-lo. Eu listei algumas diferenças existentes entre os negros escravos e pego essas diferenças e as torno maiores ainda. Eu uso medo, a desconfiança e a inveja como elementos de controle. Esse método tem funcionado na minha modesta plantação lá nas índias do oeste e funcionará também aqui no sul, leiam à pequena lista de diferença e pensem a respeito. No inicio da minha lista está à idade, mas poderiam começar com outro item. O segundo é a cor ou a gradação de cor, existe também a inteligência, estatura, sexo, tamanho de plantação, comportamento do senhor, se o escravo vive no vale ou na colina, se é do leste ou do oeste, do norte ou do sul, se tem cabelos lisos ou crespos ou se são altos ou baixos . Agora que os senhores já têm a lista de diferenças, devo enumerar-lhes algumas atitudes que devem ser tomadas, mas antes disso, devo assegurar aos senhores que a desconfiança é mais forte que a confiança, e a inveja é mais forte que a lisonja, o respeito e a admiração. Os negros escravos depois de receberem essa doutrinação deverão incorporar-se a ela e se tornarão, eles próprios, reprodutores delas por centenas de anos, talvez milhares de anos. Não se esqueçam os senhores devem jogar um negro velho contra um negro novo e um jovem contra um velho escravo. Os senhores devem usar o escravo de pele escura contra o escravo de pele clara, e o escravo de pele mais clara contra o escavo de pele escura. Deverão também os senhores terem seus criados brancos e capatazes que desconfiem de todos os negros. Mas é necessário que os vossos escravos confiem e dependem de vós, eles devem amar, respeitar e confiar apenas em nós. Cavalheiros, esses conjuntos de medidas são a chave do controle, usem-nas. Faça com que vossas esposas, filhos também usem, nunca percam uma oportunidade. Meu plano é garantido e, o bom desse plano é que se usado intensamente durante um ano, os próprios escravos permanecerão eternamente desconfiados uns dos outros.
Obrigado cavalheiros”

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A luz do Pensamento Crítico

Por Ulisses Ciríaco

Nos dias atuais, vemos constantemente na televisão as mais variadas formas de falcatruas e canalhices de governos políticos, da massa burguesa e também da população em geral. Vivemos em uma sociedade onde, talvez por uma conseqüência histórica, é reinante a miséria, é comum a corrupção e a falta de informação e cultura. Explico:
Sobre a conseqüência histórica dessa perspectiva, acredito que somos o que somos hoje devido, em partes, ao nosso processo histórico. Na época do descobrimento, fomos colonizados, explorados, escravizados, enfim, fomos moldados de acordo com os interesses dos estrangeiros que se instituíam em nossa terra e a tomavam para sí. Ao chegarem, negociaram de forma oportunista nossas riquezas naturais em troca de bugigangas, escravizaram e brutalizaram os povos nativos, baniram a cultura vigente em nome da cultura que pregavam, e estabeleceram, a nós, suas próprias leis.
Resumidamente, podemos dizer que fomos e somos explorados desde nossos primórdios. Explorados materialmente (através de nossas riquezas naturais e escravização dos corpos), explorados culturalmente (através da negação de uma cultura já estabelecida para a implantação de cultura estrangeira) e submetidos as mais cruéis barbáries em nome de uma cultura obscura dos homens ditos racionais.
Hoje, séculos após nossa colonização, continuamos a ser colônias estrangeiras. Claro, em proporções diferentes (e muito mais sutis) do que antes. Hoje, uma das ferramentas de maior poder para essa escravização mental é a televisão e sua ditadura da sodomia. Na TV, tudo pode, até o que não pode.
Vivemos na sociedade do espetáculo, como dizia Guy Debord, e estamos sujeitos a aumentar cada vez mais a perversão que é gozar da intimidade alheia, através de reality shows e equivalentes.
Há tempos não muito distantes jovens que não estavam inertes às manipulações do governo uniram-se em militâncias políticas, pegaram suas armas e lutaram para a derrubada do poder. Muitos desses que morreram para que fosse possível termos o que temos hoje, sermos o que somos hoje, sequer são lembrados. Ou, estão “andando de mãos dadas” com aqueles que ontem os atacaram. Exemplo disso é o da candidata à presidência, Dilma Rousseff, que, apesar de ter literalmente lutado na época da ditadura, tem hoje como grande parceiro de campanha o PMDB, o antigo MDB, partido de “oposição” ao governo (ARENA) e um dos únicos (dois) partidos de funcionamento autorizado e de grande expressão (falsamente democrática) na época da ditadura.
Ironia? Certamente não.
Ouvimos falar em direita e esquerda, governo e oposição, temos nossos candidatos e partidos de preferência, falamos sobre eles, mas mal sabemos que ambos estão roubando juntos, e juntos, produzindo novas formas de anular nossas ações.
O pior de tudo é ver que hoje, os fins, que eram regidos pelos princípios de liberdade e igualdade, morreram pelos meios, que foram pervertidos e marginalizados. Temos o advento da liberdade de expressão, mas o que fazemos com essa liberdade? A utilizamos para a conquista do gozo indefinido e irracional, através da exploração narcísica dos corpos nus e nos entregamos cada vez mais ao prazer da falta dos limites. Não há limites para seres que são regidos pelo princípio do prazer. É natural do ser humano a busca pelo prazer ou a evitação do "des"prazer. E é aí que mora o perigo. O que temos a nosso favor é o conhecimento. Entretanto, até mesmo o conhecimento pode ser perverso. Tomemos como exemplo Hitler e seus discursos patrióticos sobre uma raça ariana dominante, que convenceu milhões e resultou em uma das piores barbáries da humanidade, o genocídio.
Outra forma notável de alienação à qual estamos submetidos e que tem atingido milhões de pessoas é a banalização da política. É normal ouvirmos as pessoas dizerem "eu detesto política" ou "não sei nada sobre política" ou coisas do tipo. Acredito que essa seja mais uma isca que fisgamos. A política é a nossa esperança de vitória. Assim como os princípios anarquistas, acredito que somente quando for tomado e principalmente, destruído o poder, poderemos chegar a uma sociedade mais coesa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Emancipação das Idéias


Gostaria de iniciar minha primeira postagem, expondo os objetivos desse blog. Trata-se de uma ferramenta social de comunicação, informação, construção, colaboração e trocas, em busca da emancipação cultural e ideólogica.
Este será um espaço democrático e de idéias livres, visando que os leitores possam formar sua opinião de forma autônoma acerca dos tema tratados.
Nenhum assunto será tabu.
Temas, artigos, textos e todos os tipos de contribuições serão imensamente bem-vindas.
Busca-se aqui, que os usuários possam interagir de forma livre sobre as mais variadas temáticas expostas, para que não sejam sujeitos passivos da informação e da comunicação, mas que sejam seres ativos em relação ao seu meio e ao que acontece nele.
A falta de posicionamento crítico faz com que os seres se tornem sedentários intelectuais. Recebem as informações previamente "mastigadas" e com uma opinião pré-formada e tendenciosa, o que transforma a sociedade em seres de psuedo opiniões.
Quando o ser está consciente de que é autor de sua própria história, responsável por suas próprias ações, nada do que é pré-formado é aceito passivamente. Pelo contrário, tudo passa a ser motivo de questionamento, questionamento esse que vai muito alem de duvidar de algo, mas sim coletar um repertório de informações pertinentes que possibilitem uma formação única e própria de opinião.
Através dessa dialética, espero que possamos (juntos) trocar informações pertinentes e fidedignas sobre assuntos que estão sendo discutidos através de discussões tendenciosas e alienadas, além de arrancar a mordaça e falar sem "papas na língua" sobre os assuntos que são exaustivamente abafados ou distorcidos.
Nenhum assunto será tabu para as mentes livres dos preconceitos e das alienações da sociedade.
"Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada". (Edmund Burke)

Pé na Porta e Peguem as Bandeiras!!!