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domingo, 24 de outubro de 2010

Relato da Noite Sem Teto


Por Rafael de La Torre

Dia 17 de outubro rolou a Noite sem Teto, protagonizado por uma ONG chilena que está começando no Brasil, o evento foi realizado em toda a Sudamerica.


Intuito. Pessoas moram na rua e isso é um absurdo. Só no município de São Paulo temos 10 milhões de pessoas e 4 milhões não tem condições de moradia segundo falado nas palestras da ONG.( será que é culpa do PT que não governa São Paulo faz 16 anos? Ou o PT tem culpa disso, pois nas mãos de Erundina ela liberou os camelos e fez um êxodo total de pessoas para São Paulo que então não conseguiram encontrar infra-estrutura adequada na cidade? Deixo o pensamento....).

Beleza, a maioria eram jovens de Universidade, tanto que o chamativo da ONG para este evento falava em capacitar jovens nas universidades e etc. A maioria dos jovens eram de Direito, Arquitetura, tendo poucos de outras instâncias do saber e as idades eram de 17 até 22 anos, dando no máximo 23 anos.

Proposta: Ficar na madruga em um monumento público da cidade de São Paulo como forma de denúncia da situação. De quebra, teria palestras de convidados para debater o tema, ou lançar luz de estratégias para o ''combate''.

Bom, de todos os palestrantes, o que mais foi inteligente no modo de abordar o tema foi um Arquiteto, que não tinha um discurso pronto e abordou de inúmeras maneiras formas de como a arquitetura poderia contribuir para o usufruto de todos e que era um pensamento mesquinho falar que não tem mercado para arquiteto. Não tem se for pensar em querer montar casas em bairros nobres. MAS, o mais importante, não é a crítica ao burguês que pode montar casas exuberantes e tem acesso a tudo que precisa. A coisa em si e que deve ser levada em conta é não tomar essas coisas como NATURAIS, fora o terrorismo midiático que fazem quando um MST invade uma terra que ditam ser produtiva. Mas em síntese, a melhor fala da noite, a do Arquiteto, é que devemos nos indignar com esta situação e mostrou algumas matérias da VEJA que demonstrava em sua CAPA bairros nobres e prédios nobres da cidade de São Paulo, envoltos por uma parte cinza e a notícia era a seguinte: '' A camada pobre cresce na cidade de São Paulo, e faz bairros de infra-estrutura ficarem desvalorizados.'' (não é bem esse o título da notícia, mas era algo bem próximo disso.).



Muito bem, encerrada a fala, e após quase todas as falas todo mundo ficava aplaudindo como se fosse um programa de show, se o palestrante falasse: '' Merda, mas viva a iniciativa de dormir na rua e que é uma vergonha isto ficar assim''. Todo mundo iria aplaudir. Fora que teve um cara do Marketing e um economista que tomaram uma fala que fez arrepiar os meus cabelos, defendendo a iniciativa voluntária como ótima, e que o negócio lógico é fazer e promover empresas com lógica 2,5 setor, ou invés de 2º setor ou 3º setor. A lógica 2,5 é que não basta fazer serviço social, mas tem que fazer um serviço social e LUCRAR com ele.

Desnecessário dizer, ou melhor, muito necessário dizer que isto implica no discurso que não se deve de maneira nenhuma necessitar da ajuda do Governo, mas sim do Mercado, ou seja, um discurso neoliberal e que estas possibilidades de lógica se dão em um Governo como o de São Paulo, que é Tucano e que justamente é o mesmo Governo que a ONG está tentando denunciar, pois existem, repito, 4 milhões de pessoas só no município de São Paulo segundo os dados da ONG. Contra-senso, certo? Mas todos aplaudiram o cara no fim das contas. Fora que ele falou que prefere o programa de saúde de clínicas privadas atendendo a consulta a 30 reais, do que o SUS que é gratuito. (nesse comentário não vou me estender, mas o SUS é parte da Constituição após anos de luta do movimento Sanitário, em outras palavras o cara negou algo que é da Constituição e disse que o melhor é o PAGO, do que qualquer coisa ''gratuita'').

Mas tudo bem, sem querer ser romântico, vivemos no capitalismo e no caso do Brasil um capitalismo bem...bem...como posso dizer....infantil? Onde a ignorância é uma benção. Ignorância no sentido de o mundo não precisar de questionamento sem ser no sentido da truculência. Sendo assim, temos um capitalismo que qualquer ação é central do capital e da mais-valia. Serviços, prestação de Serviços, operarão em certo sentido na lógica do Mercado Capital, que prega uma autonomia, mas que deixa todos dependentes de como são as Leis do Mercado (contra-senso). E isto, envolve serviços ditos Sociais então, provisoriamente, a lógica 2 e meio se for feita nesse sentido de ser PROVISÓRIO, é a melhor opção para ser menos perverso no sistema capitalista do Brasil. Ou é este dentro de uma lógica privada, ou o Estatal (de minha preferência e que NINGUEM dos palestrantes teve capacidade de falar sobre, como se não existisse).

Não preciso dizer que todos aplaudiram também e em mesmo tom as coisas que o carinha disse. Ele até usou exemplos de pessoas que ganharam prêmio Nobel e pediu para falarem de quem vem na mente quando se fala em prêmio Nobel, eu logo pensei em Sartre, que se negou em ir receber o seu, mas enfim, ele disse isso para falar do único bancário que ganhou o Prêmio Nobel da Paz (digno de nota, é verdade) Muhammad Yunus, que fez o banco do povo (se fosse um tucano iria dar o nome de banco do pobre) pois Blangadesh passava por uma crise de fome na década de 70. No livro '' Para Entender o Mundo Financeiro '' de Paul Singer, ele discorre sobre o Banco do Povo e Muhammad Yunus, vale a pena ler o livro desse economista que trabalha com economia solidária por todo o Brasil. 



E tudo isso para falar do trabalho voluntário. Para ver como não é tão simples assim, fazer um trabalho voluntário, veja quantas questões permeiam uma organização dita de serviços voluntários. Não é tão simples, repito, falar e fazer um trabalho voluntário.

Enfim, fomos para uma roda de debate, haviam umas 130 pessoas, e quando chegávamos tínhamos um numero, o meu foi o 13. O tópico de discussão era: Que medidas tomar para erradicar a pobreza na cidade?
Antes do início do debate, todos foram se apresentando. Na roda tinha um cara que veio da Espanha e tava por aqui trabalhando na ONG, deveriam ter, tirando o espanhol, outras 11 pessoas ou mais, todos por volta dos 19 até 22 anos, Arquitetos e estudantes de Direito.

Com todo o respeito aos amigos de fórum que estudam direito, mas......meu.....me senti em uma roda de culto evangélico. Bradavam leis e alfinetavam a prefeitura/estado com uma avidez comparável de quem recita versículos e que ataca o diabo nos cultos. Por 1 hora eu fiquei escutando e escutando, e todos se levavam bem a sério e tinham plena certeza de o que estavam fazendo e debatendo era a coisa mais sensata possível e que a ação da noite era um golpe contra o descaso social que as pessoas de rua passam. Discursavam sobre o Capitalismo como que fosse resumível a culpa de tudo pelo capitalismo e que tendo o IPTU progressivo e o Usucapião e mais outras manobras que só podem ter vindas de um professor de Direito que não sai dos corredores da faculdade e que só sabe fazer uso do poder ao qual fiquei admirado.

Logo, notei que ali eu tinha no mínimo um compromisso Ético. Contextualizar essa galera de que não é tão simples assim a resolução e que tem sim de serem promovidas ações envolvendo todos os atores sociais. Prefeitura, Sociedade Civil e etc.

O primeiro foi um estudante de Direito que falava aos cotovelos sobre o capitalismo e que a prefeitura era uma merda que não fazia porque não queria e tudo mais. A fala dele foi a seguinte quando se estava falando se seria possível ter outra dimensão de uso do dinheiro e trabalho na sociedade:'' Pra mim não tem jeito só mexer na educação. Tem que mexer no plano econômico, pois só com educação, não serão todos que terão em mente que para dar ''certo'' na vida tem que fazer faculdade, e que o ''errado'' é quem não faz nada. Só educação não basta, a primeira ação deveria ser no plano econômico. '' 
Neste momento tive que fazer uma intervenção e falei: '' Cara, essa sua fala, por sí só já é capitalista. Você está observando a situação em uma lógica cartesiana, sendo assim, binária. Certo e errado, mesmo quando tu falas entre aspas, já é fala de capital, pois tem um sentido de juízo de certo/errado em primeira instancia. Fora que não existe só um tipo de capitalismo, tu tens que falar do nosso tipo de capitalismo e não olhando que nos países nórdicos tem de tudo, mesmo sendo capitalistas. Enquanto a nossa fala for binária ''certo/errado'', mesmo com aspas, estamos falando, em miúdos de ''Lucro/Prejuízo. '‘.

O que quis dizer mesmo foi para todos que, não adiantava ficar “demonizando” o capitalismo, pois QUALQUER discussão que fazemos do capitalismo, estamos ficando longe do objetivo que é pensar e fazer coisas para melhorar a situação da pobreza. Que adianta meter o pau no capitalismo, na madrugada, em frente ao monumento dos bandeirantes? É sério. O mundo não para porque estamos fazendo isso ou aquilo. Que ficar ao relento é nobre. Ou que fazendo uma carta, os problemas iriam se resolver por si só, pois na carta tem um conhecimento completo de Leis previstas para melhorar o quadro social. (só que não cita que o Judiciário está totalmente engessado nos dias atuais, culpa dos próprios Advogados?!)

Enfim, teria inúmeras outras situações a falar deste ato voluntário.
No fim eu saí com um pensamento, que compartilhei com os colegas de discussão: '' Esta carta irá para quem? Prefeito? Bem, e se é para escrever uma carta para combater ou melhorar a pobreza, penso que quem deveria escrever ela não seriamos nós, mas irmos buscar quem vive na pobreza e falar para ele escrever o que acha que deve ser feito, senão, essa atitude é só uma atitude pequeno-burguesa e capitalista, onde o detentor do saber, saberá o melhor para quem não sabe.'
E, fundamentalmente, dormir na rua para ter experiência de como é dormir na rua, em um local nobre de São Paulo é estar perto de quem dorme nas ruas? O melhor, já que é o sentido da ONG sensibilizar, é levar então pessoas que dormem na rua para a nossa casa. Isso seria levar o problema para a casa. E ae, quem banca?
''

Não me surpreendeu que muitos não entenderam bem e outros simplesmente ignoraram e se apressaram em escrever uma carta que supostamente será entregue na prefeitura. 

Resumindo uma participação de trabalho voluntário.
Isto aproxima mesmo pessoas da realidade? 
Eu saí com dúvidas sobre essa efetividade. Não levar o problema para a casa é fácil.
Agradeço quem ler este relato. Vale a pena.



2 comentários:

Freire disse...

Não pretendo pronunciar muitas palavras, pois as tuas já bastaram para desmentir esse pessoal dito do povo. Sua intenção de levar os moradores de rua para casa é, ao meu ver, a atitude mais fácil, mais certa e que daria mais resultados para acabar com este problema.

Neste sentido, recomendo muito um filme que assisti a alguns dias atrás. É sobre uma mulher, rica e bem de vida, que convida um jovem de 16 anos, morador de rua, a passar alguns dias em sua casa. Ele não apenas se tornou parte da família (foi adotado, em outras palavras), como também se tornou um dos maiores jogadores de futebol americano da atualidade. Isso mesmo, o filme é praticamente todo baseado na vida do jogador Michael Oher. O filme é "Um Sonho Possível". Assistam.

Às vezes fico a refletir sobre isso. Michael só pode consquistar uma vida melhor com oportunidades. Mas o que eu não me orgulho de ver é que as oportunidades só surgem para quem já é bem de vida. Encontra-se aí, então, um paradoxo que tende a excluir qualquer excluído. Para quebrar este dilema nada melhor do que nós mesmos sermos solidários com moradores de rua, convidando-os para nossas casas, para almoçar nem que seja por um único dia, pois é desta forma (fácil, rápida e que dá mais resultados) que combateremos o pior dos piores problemas sociais. Oportunidade, pois, é uma palavra que me encanta.

DO disse...

Esta foi a matéria mais abjeta que li nos últimos tempos, não pelo tema, mas pela maneira com que as pessoas discutem os problemas sem conhecimento das causas. Morar na rua pode ser opção, necessidade, abandono e é uma doença social das grandes cidades. É a liberdade da recusa de se albergarem nos dias mais frios, apesar dos apelos dos assistentes sociais. È a fuga de situações familiares e fobias sociais.
Solução, existe. Mas é uma solução que abrange a área da saúde, da economia com uma política de formação de mão de obra e emprego, educação e habitação. E como é do conhecimento, morador de rua não vota, pois a maioria já perdeu ou não querem identificação com esta estrutura social.
Nem PT, nem PSDB, partido ou regime qualquer vai se interessar por este problema. Nem mesmo as entidades religiosas, filantrópicas e assistencialistas dão solução.
Para os políticos a massa de eleitores estão nas favelas, sub-moradias ou ocupações a mando deste ou daquele interesse. E num país em que pobres e descamisados são a imensa maioria, ganham o poder àqueles que tem competência de convencer e oferecer a este gado, o pão, circo e o céu, enquanto os pseudos discutem seu protesto ao relento, imaginando a cobertura da mídia e o paitrocínio, digo, patrocínio de suas ações.
E quando se fala em morador de rua, pensa-se em adultos, mas quantas centenas de menores estão a perambular na noite em busca de abrigo, sozinhos ou em bandos, defendendo a sobrevida.
“Só no município de São Paulo temos 10 milhões de pessoas e 4 milhões não tem condições de moradia”, diz a matéria. Se estes números forem reais, trabalhado este segmento, elegeremos vereadores, prefeito, deputados e senadores.
A propósito, o evento foi realizado ao ar livre, numa madrugada fria, por exemplo, no vale do Anhagabau ou embaixo de uma das pontes às margens do Rio Tietê?
Fala sério!!!