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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A luz do Pensamento Crítico

Por Ulisses Ciríaco

Nos dias atuais, vemos constantemente na televisão as mais variadas formas de falcatruas e canalhices de governos políticos, da massa burguesa e também da população em geral. Vivemos em uma sociedade onde, talvez por uma conseqüência histórica, é reinante a miséria, é comum a corrupção e a falta de informação e cultura. Explico:
Sobre a conseqüência histórica dessa perspectiva, acredito que somos o que somos hoje devido, em partes, ao nosso processo histórico. Na época do descobrimento, fomos colonizados, explorados, escravizados, enfim, fomos moldados de acordo com os interesses dos estrangeiros que se instituíam em nossa terra e a tomavam para sí. Ao chegarem, negociaram de forma oportunista nossas riquezas naturais em troca de bugigangas, escravizaram e brutalizaram os povos nativos, baniram a cultura vigente em nome da cultura que pregavam, e estabeleceram, a nós, suas próprias leis.
Resumidamente, podemos dizer que fomos e somos explorados desde nossos primórdios. Explorados materialmente (através de nossas riquezas naturais e escravização dos corpos), explorados culturalmente (através da negação de uma cultura já estabelecida para a implantação de cultura estrangeira) e submetidos as mais cruéis barbáries em nome de uma cultura obscura dos homens ditos racionais.
Hoje, séculos após nossa colonização, continuamos a ser colônias estrangeiras. Claro, em proporções diferentes (e muito mais sutis) do que antes. Hoje, uma das ferramentas de maior poder para essa escravização mental é a televisão e sua ditadura da sodomia. Na TV, tudo pode, até o que não pode.
Vivemos na sociedade do espetáculo, como dizia Guy Debord, e estamos sujeitos a aumentar cada vez mais a perversão que é gozar da intimidade alheia, através de reality shows e equivalentes.
Há tempos não muito distantes jovens que não estavam inertes às manipulações do governo uniram-se em militâncias políticas, pegaram suas armas e lutaram para a derrubada do poder. Muitos desses que morreram para que fosse possível termos o que temos hoje, sermos o que somos hoje, sequer são lembrados. Ou, estão “andando de mãos dadas” com aqueles que ontem os atacaram. Exemplo disso é o da candidata à presidência, Dilma Rousseff, que, apesar de ter literalmente lutado na época da ditadura, tem hoje como grande parceiro de campanha o PMDB, o antigo MDB, partido de “oposição” ao governo (ARENA) e um dos únicos (dois) partidos de funcionamento autorizado e de grande expressão (falsamente democrática) na época da ditadura.
Ironia? Certamente não.
Ouvimos falar em direita e esquerda, governo e oposição, temos nossos candidatos e partidos de preferência, falamos sobre eles, mas mal sabemos que ambos estão roubando juntos, e juntos, produzindo novas formas de anular nossas ações.
O pior de tudo é ver que hoje, os fins, que eram regidos pelos princípios de liberdade e igualdade, morreram pelos meios, que foram pervertidos e marginalizados. Temos o advento da liberdade de expressão, mas o que fazemos com essa liberdade? A utilizamos para a conquista do gozo indefinido e irracional, através da exploração narcísica dos corpos nus e nos entregamos cada vez mais ao prazer da falta dos limites. Não há limites para seres que são regidos pelo princípio do prazer. É natural do ser humano a busca pelo prazer ou a evitação do "des"prazer. E é aí que mora o perigo. O que temos a nosso favor é o conhecimento. Entretanto, até mesmo o conhecimento pode ser perverso. Tomemos como exemplo Hitler e seus discursos patrióticos sobre uma raça ariana dominante, que convenceu milhões e resultou em uma das piores barbáries da humanidade, o genocídio.
Outra forma notável de alienação à qual estamos submetidos e que tem atingido milhões de pessoas é a banalização da política. É normal ouvirmos as pessoas dizerem "eu detesto política" ou "não sei nada sobre política" ou coisas do tipo. Acredito que essa seja mais uma isca que fisgamos. A política é a nossa esperança de vitória. Assim como os princípios anarquistas, acredito que somente quando for tomado e principalmente, destruído o poder, poderemos chegar a uma sociedade mais coesa.
Não quero dizer aqui que os políticos são a esperança, mas A POLÍTICA. Consciência política é, atualmente, mais do que necessária para não cairmos nas armadilhas do sistema. Mas, além da consciência política, é escasso também um pensamento crítico acerca dos horizontes das relações sociais. Hoje, na era digital, todos conhecem bem seus direitos, mas esquecem e lutam de todas as formas para não assumirem seus deveres. E o governo contribui para isso cada vez mais, nos dando a impressão de que é de responsabilidade desse sistema, que desde os primórdios nos escravizou, a melhoria da nossa qualidade de vida. Faz-nos termos essa impressão através dos diversos projetos sociais vigentes atualmente, que visam medidas meramente assistencialistas. Medidas assistencialistas não promovem a emancipação, pelo contrário, nos fazem cada vez mais dependentes. Estamos colhendo míseras migalhas que caem da boca enorme desse sistema devorador e parte da culpa disso é nossa, pois ficamos calados e inertes enquanto revoluções acontecem e são de todas as formas possíveis, mascaradas e escondidas para que não tenhamos consciência.
É crucial interiorizar a consciência do outro, ver que o outro é tão importante para nós, quanto nós mesmos. E mais, saber que o outro compartilha essa visão e que também somos importantes para esses. Somos importantes, pois estamos com o pensamento e prática de pensamento ativos, estamos movimentando e incomodando através da dialética do pensamento crítico. Pensamento crítico não se restringe a criticar, mas mostrar que além da crítica há novas perspectivas e propostas de mudança. É muito fácil reclamarmos do que não está bom sem pensarmos em formas de mudança e novas propostas para tal.
Temos a oportunidade de nos unir, com nossas semelhanças e diferenças, e através delas montar novas ferramentas de evolução social, mas nos limitamos a deixar que as diferenças sejam cada vez mais a essência da dissensão social.
Mais uma vez somos ardilmente embusteados. Caímos no jogo deles.
Para finalizar, gostaria de dizer a todos os que estão engajados e interessados em mudanças significativas para a nossa sociedade, que não desistam jamais, pois mesmo em meio aos moribundos e semi-mortos, ainda há os que vivem.
O difícil não é achar uma luz na escuridão, pois soluções mirabolantes sempre aparecerão. O difícil mesmo é aprender a enxergar no escuro.

3 comentários:

DO disse...

"A moderação de comentários foi ativada. Todos os comentários devem ser aprovados pelo autor do blog".
Isso é uma censura. Se as manifestações devem obedecer a uma regra, que se determine os parâmetros, tipo, eugenia, racismo, religiosidade, ofensas pessoais, etc, o que não seria a pura verdade, pois a verdade é cruel, às vezes disforme, barulhenta e fede.

Argonauta disse...

Olá colega. Concordo com você, não havia me atentado a isso ainda.
A moderação dos comentários foi desativada. Obrigado por reivindicar.

Michelle Oliveira disse...

O grande interesse dos presidenciáveis nas favelas deve- se ao potencial eleitoral das comunidades. Com milhares de eleitores, as áreas carentes podem render aos candidatos muitos votos e ótimos discursos no horário eleitoral sobre como melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. Nas áreas mais pobres e carentes de atenção, a visita de alguém famoso pode aumentar a auto-estima do bairro, criando a sensação nos moradores que sua comunidade não será esquecida no exercício do mandato e o voto no simpático político que se dispôs a ir a periferia é quase garantido.
No Parque São Rafael, as creches, escolas e posto de saúde seriam visitados pelos candidatos a presidência. No caso da Dilma, o trecho do córrego que foi canalizado como parte das obras do PAC iria para o ar em seu programa na televisão. Perguntaria a ela por que demorou seis meses para resolver só a metade do problema.
Questionaria José Serra, também ex- prefeito da cidade de São Paulo, por que não há bibliotecas, parques públicos ou praças com brinquedos no bairro.